quinta-feira, 17 de setembro de 2015

MEMÓRIAS URBANAS

(Antiga Feira de Cereais)

(Negros do Riacho, anos 60)


Antigamente, dias de feira em Currais Novos era uma outra história; uma outra história bastante diferente da nossa atual triste realidade.

Pra início de conversa, a feira era localizada na Rua Lula Gomes, atravessando a Avenida Cel. José Bezerra, prolongando-se até a Rua João Pessoa, tendo como elo de ligação, o velho Beco de Chatô, ou o beco da troca, como assim passou para a história.

Mas o que mais me impressionava, na feira, como ainda hoje impressiona, são as bancas de "mangaios", essas mágicas bancas que vendem de tudo o quanto é apetrecho para o vaqueiro e agricultor. Nelas a imaginação corre solta, porque tudo que ali está exposto á venda é produto da criatividade sertaneja, muitas vezes se aproveitando de materiais que tem disponíveis ou reciclando, como é mais comum.

A mágica da feira é traduzida pelos vendedores ambulantes de banhas milagrosas, aqueles que, para atrair incautos e fregueses, expunham cobras, tijuaçus, porcos-espinhos, bichos-preguiças, gatos do mato, jaguatiricas, papagaios, araras, macacos-prego, etc., e os cantadores de viola, emboladores, cantadores de coco, recitadores de cordéis, gente nômade, assim como os tapuias, que surgiam e sumiam de repente, reaparecendo tempos depois, com alguma novidade.

A feira do barro, por exemplo, tocada pelos "negros do riacho", já não existe mais, nem tanto porque ninguém mais faça uso de potes, bules, alguidares, panelas, quartinhas e demais louças e artefatos de barro, mas porque os próprios negros hoje, dedicam-se, talvez, a outras atividades ou até a atividade nenhuma, não tendo tido o cuidado de repassar para os pósteros a arte milenar de moldar o barro.

Sabe-se pouco, mas muito pouco mesmo sobre a verdadeira história dos "negros do riacho" do Bonsucesso, pois eles próprios se negam a comentar, como se ainda temessem alguma coisa contra eles. De escrito mesmo, somente um livro escrito pelo Dr. Luiz Assunção sobre o tema; de resto, pouco, muito pouco mesmo sabemos sobre a sua verdadeira história. Sabe-se que, segundo a oralidade, chegaram aqui oriundos de quilombos de Pernambuco ou Porto Calvo (Alagoas), e são divididos ainda em dois clãs: caboclos e negros. Trajano Passarinho e Zé Banda foram antigos chefes conhecidos da comunidade quilombola de Currais Novos, tendo as negras Tereza ( a nova e a velha, mãe e filha) como últimas líderes da comunidade.

Hoje, a feira dos curraisnovenses da urbe, é realizada todos os dias, mas especificamente aos domingos pela manhã, ficando as feiras das segundas, a tradicional feira livre semanal, para os habitantes da nossa zona rural.

São as mudanças que movem as pessoas, os costumes, as regras, as políticas, as situações, as circunstâncias, enfim, move a própria cultura.  
  

   






Nenhum comentário:

Postar um comentário