domingo, 20 de setembro de 2015

LENDAS URBANAS - A Cachoeira, o velho açude e outros acasos



(Antiga Rua do Comércio, hoje Praça Cristo Rei - Início do século XX)


Nunca mais havia andado pelas bandas do velho açude do governo e da Cachoeira. Estive por lá ontem e pude constatar uma das verdades: o velho açude incorporou-se ao casario do bairro Dr. Silvio Bezerra, assim como o açude velho de Campina Grande foi engolido pela urbanidade. 

Ali era o velho Totoró de Baixo, que um dia fez parte da historicidade da Bela Vista dos Currais Novos. Palco de crimes ali ocorridos, no início do século, hoje demarcados por um cruzeiro. Sim, porque a nossa história, mesmo na oralidade secular dos tempos, é vista e revista sempre, com o mesmo ímpeto, com a mesma disposição; pois foi por essa antiga estrada, do Totoró de Baixo que, naquele distante ano de 1808, a nossa imagem de Sant'Anna veio, em procissão, da casa-grande do Totoró de Cima, residência da Sra. Ana Lins de Vasconcelos, casada com Félix Gomes Pequeno, irmão do Capitão-mor Galvão, por parte de mãe, para a recém inaugurada Capela de Sant'Anna (a primitiva), onde foi devidamente entronizada como padroeira.

O crime acima pronunciado, que teve como cenário uma porteira lá existente, - hoje dentro dos muros do Parque de Exposição - com cruzeiro demarcando o local, deu-se quando Domingos Fogueteiro, ao receber provocações de outrem, armou uma tocaia e aniquilou, a tiros de rifle, o então delegado Melanias Mendes e o Cabo Manoel Tomaz, que foram lá em seu encalço. Crime de repercussão na época. 

Lá na Cachoeira, por exemplo, ainda resiste um velho casarão em que residiu o velho Pedro Cachoeira, ainda quase intacto, que nos fala de uma botija ali arrancada há tempos, tendo alguns moradores até considerado a velha moradia como "mal-assombrada". Próximo a essa casa-grande, também resistem vestígios do que foi um cemitério antigo, nos tempos em que a região foi assolada por uma epidemia de "cólera morbus", e o nosso Cemitério de Santana já não atendia a demanda, principalmente aos corpos mortos da nossa zona rural, especialmente da região do Totoró de Cima, Trangola, Quandú e adjacências.

Se o caso da botija e da fama de mal-assombrada da casa-grande da Cachoeira, deságua numa lenda, os vestígios do cemitério não, eles estão lá, para comprovação de uma verdade inconteste, pois se cavarmos as referidas covas, com certeza encontraremos resquícios de esqueletos, que um dia foram gente e que por ali residiram e fizeram história. 

De resto, a paisagem do velho açude totalmente seco desarma o desenho natural e nos transporta para tempos anteriores, quando os invernos eram mais regulares e o mesmo transbordava numa voracidade elementar, indo ajudar ao velho Rio São Bento a fartar o Gargalheira, no Acari, com suas águas benfazejas.

Hoje, a parede e o sangradouro do velho açude confinam com as casas de residências que a circundam, ornando um quadro surreal, inimaginável para aqueles anos 50/60, quando nem podíamos aventar que um dia, no mais distante ano de 2015, do século XXI, constataríamos tal realidade.

O progresso é um tirano, e o futuro tarda, mas um dia chega!



  

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