A Rua Capitão-mor Galvão, além de Rua Grande, tinha outro topônimo, Rua da Cadeia, pois quando esta foi transferida da antiga Rua do Rosário (hoje Vivaldo Pereira), para a beira do rio, exatamente no local onde outrora localizara-se o trato de animais e pouso de Gregório Nasioseno, hoje abrigando a 3ª Companhia Independente de Polícia Militar, a rua já estava bastante transformada, inclusive tendo muitos moradores mudado as fachadas de suas residências, outras transformadas em casas comerciais, muitos moradores originários haviam já se mudado, etc., por isso fiz, ainda nos anos um poema para a memória da rua e de alguns de seus antigos moradores:
A
Rua Grande
(Rua Capitão-mor Galvão)
Relembro
a velha “Rua Grande”
da minha infância com os olhos
distantes,
de mais de meio século...
A rua do rio, que esbarrava na
cadeia;
A rua da igreja, que começava na
praça.
Passagem obrigatória dos que iam
e vinham de todas as funções.
Nela, ainda vejo a “bomba”
enfeitando a janela de João de
Chicó,
o riacho cheio em dias de chuva,
a pedra de “seu” Manequinho inda
imponente...
Lembro
de dona Júlia Duarte, de chicote na mão,
guardando seu ficus à passagem
das passeatas políticas,
que tornava-se cômico, se não
fosse trágico,
ver o couro passeando no lombo de
algum "bacurau" desavisado .
Lembro-me como se fosse hoje,
Como se o tempo não tivesse
passado,
Como se nada tivesse passado,
Como se o presente sequer
houvesse chegado.
Lembro do meu avô no bloco dos motoristas,
De Raimundo Cruz com sua troça
& família,
De Mário Aragão com seu motor,
Do “Assum Preto”, pássaro
Anum Mará,
Com Inácio Gavião conduzindo a
grande ave
Em rumo do “departamento”, em
passo de ganso.
Me vejo nos jogos de bola na calçada
do Armazém,
no cheiro de pão da Padaria de Zé Pinheiro,
da velha oficina de “seu” Zé
Augusto, de Paródi
e do velho Zé Tetéu.
Da rua velha, hoje apenas um ou
outro rosto mais antigo,
Uma ou outra fachada ainda
intocada,
Uma ou outra lembrança ainda
rediviva,
E muitas saudades que nos fere de
morte.
Naqueles tempos a nossa polícia era resumida a um delegado, que era militar, um ou dois sub-delegados civis e a soldadesca, que não passava de cinco ou seis praças, pois de mais a cidade, graças a Deus, ainda não necessitava. O quartel não possuía viatura, ela apenas representava um sonho ainda muito distante, que só veio a concretizar-se quando por aqui chegou a folclórica Rural Willys verde-branca, que foi causa se grande sucesso. No mais, era a soldadesca reclamando dos salários que sempre atrasavam, dos fardamentos já desbotados pelo tempo, das munições vencidas, enfim, vivia a polícia, naqueles tempos, numa precariedade tremenda, o que só viria a melhorar a partir de 1987, quando o então governador do estado passou a olhá-la com os olhos de quem realmente quer mudar alguma coisa, e mudou mesmo.
Mas sendo o nosso quartel e cadeia localizados no final da Rua Grande, era divertido vermos os soldados, ás segundas feiras, "guiando" para o xadrez algum bêbado desordeiro ou valentões que insurgiam. E nesses partos líricos, o soldado Carequinha era quem dava a tônica quando, ao conduzir meliante ao quartel, uma "mulher de vida livre", como diria o outro soldado João Rodrigues, onde a mulher, numa tentativa de gritar, pois estava bêbada, Carequinha admoestou:
- Num dê escâindo não, num escâindo!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário